gênero: Drama, Romance
duração: 1h 45min
ano de lançamento: 2023
estúdio: A24
direção: Celine Song
roteiro: Celine Song
fotografia: Shabier Kirchner
direção de arte: Grace Yun
Apaixonados na infância, Nora e Hae perdem o contato quando ela imigra. Ao se reencontrarem, irão descobrir tudo que poderiam ter sido.
Vidas Passadas é aquele tipo de filme que te pega de surpresa se não estiver preparado, do qual você sai da sala de cinema com o peito dolorido e repensando muitas coisas da vida.
Pode parecer apenas um romance clichê de um casal que se desencontrou, mas ele faz tudo, menos cair no lugar comum.
O roteiro trabalha questões sobre causalidade, destino, encontros e desencontros, escolhas. Temas que todos nós, com algum tempo de vida, já vivenciamos. Em certo momento, logo no começo, a mãe de Nora, comentando sobre a decisão de imigrar, fala sobre como sempre que fazemos uma escolha perdemos algo mas ganhamos outra coisa. Eu diria que esse é o mote do filme.
No lugar do "e se" os protagonistas revivem muitos sentimentos do que poderia ter sido se suas vidas andassem de forma diferente, mas para além do "felizes para sempre" eles também chegam a resultados que poderiam ter dado errado.
Eu queria poder colocar aqui todas as frases maravilhosas que são ditas em Vidas Passadas. Como exemplo, quando Hae conclui que gosta de Nora por quem ela é, e ela é uma pessoa que vai embora, toda a vivência ali ganha ainda mais sentido.
Para além disso, ainda temos na protagonista um conflito interno entre Nora, quem ela é hoje, e Na Young, a menina que um dia ela foi. Revisitar esse lugar, para ela constrói uma falta de identificação com quem é e, para seu marido, revela um lugar da vida da esposa que nunca poderá acessar ou conhecer.
Inclusive, o personagem do marido é essencial para trazer o enredo mais para a realidade. A causalidade que os uniu ocorreria se fosse outra pessoa? Qual o papel dele em sua vida? A história dos dois é tão bonita quanto o enredo com a paixão de infância? A metalinguagem que esse personagem traz para o filme, ao analisar o que está acontecendo do ponto de vista de um roteirista é uma delícia de assistir. Para além disso, sua atitude de, ainda que esteja inseguro com o que está ocorrendo, entender a necessidade dela vivenciar aquela experiência, faz com que seu personagem não se torne alguém descartável, mas ganhe a simpatia do espectador.
Do ponto de vista da produção de forma geral, ainda que a princípio o filme pareça um pouco lento demais, aos poucos ele engata e consegue nos levar para aquele ritmo. A lentidão unida com o silêncio são parte importante da narrativa da história - muito é contado no que não é dito.
Também é muito bonito observar como os elementos em cena ou a forma da edição ajudam a construir a história. Por exemplo, logo que os protagonistas se encontram, demora a serem retratados na mesma cena, a câmera intercala entre os dois, definindo bem que estão em mundos diferentes. Também em grande parte das cenas que aparecem juntos há algum elemento entre eles, como a barra do metrô, ou ao fundo que forme uma linha divisória entre os dois.
Por fim, os três principais personagens recebem atuações primorosas de Greta Lee, Teo Yoo e John Magaro. É impressionante o quanto eles falam com o olhar e os gestos.
Vidas Passadas, pode lembrar para alguns "Antes do Amanhecer", mas não serve de comparação. A forma como ele processa assuntos tão comuns na vida de todos, faz com que terminemos de ver reflexivos e com uma vontade imensa de rever logo em seguida. Sem defeitos.
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